Wednesday, September 14, 2005

Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido...

Utlimamente tenho me interessado por Pablo Neruda. Uma amiga me escreveu uma frase dele e eu li alguns poemas que me despertaram uma certa curiosidade sobre sua obra.

Neruda, um chileno, foi um dos maiores poetas líricos da América Latina.

Seu primeiro livro importante - "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada" - é uma autobiografia sentimental repleta de um romantismo triste, melancólico e apaixonado. P'ra os românticos, apaixonados ou p'ra os que buscam "a" pessoa, 'eum prato cheio!

No livro há um poema chamado "Posso escrever os versos mais tristes esta noite" que é uma coisa!!! Triste até não poder mais, dá saudade até em quem não precisa sentir! Porém, é também lindo e verdadeiro... achei que valia a pena publicá-lo aqui.

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Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo:
A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho.
Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro.
Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro.
Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite", de Pablo Neruda
In: 20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada

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