Vai passar...

Olha, não fique assim, isso vai passar.

Eu sei como dói, é horrível, mas passa, acredite.

Parece que a gente não vai aguentar, mas aguenta sim.
Sei que parece que vai explodir, mas, relaxa, não explode não.
Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do próprio corpo porque, dentro da gente, nesse momento, não é o melhor lugar p’ra se estar.,,

Fernando Pessoa escreveu “... hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.”.

Dor de amor é assim mesmo, arde e depois passa.
Que bom.

Aliás, a vida é assim: arde e depois passa.

Arde p'ro bem, arde p'ro mal.

A gente acha que não vai aguentar as dores, mas aguenta: as dores e a vida.

Pense assim: agora está horrivel, dolorido demais, agora você quer sair de você, ser um grampeador, um pincel ou qualquer outra coisa sem vida, inanimada, anestesiada e silenciosa.

Opa!

Mas agora, já passou.
Agora já é dez segundos depois da frase anterior.
Sua dor é dez segundos menor do que há duas linhas atrás.

Você pode não achar, mas esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando sentado na areia da praia.
Ele parece parado mas aí você desvia o olhar, lê alguma coisa, compra um biscoito Globo e lá foi ele, sumiu da sua frente.
Passou, viu?

A sua dor agora, essa fogueira na barriga, esse rio de lágrimas prestes a derramar dos seus olhos, “Take a Bow”na sua cabeça sem parar, essa sensação de que pegaram seu coração e torceram como uma toalha encharcada, isso tudo – sei que é dificil de acreditar! – vai virar só uma memória, um pontinho negro diluído num imenso mar de lembranças incríveis e outras até nem tão maravilhosas assim, mas, acredite, vai virar só um pontinho.

Levante-se daí agora, vá tomar num Mil Frutas, leia um livro, admire o luar incrível do Arpoador, mergulhe no gelado mar desse Outono.
Quando você for ver, já passou.

Agora não dá mesmo p’ra ser feliz, felicíssimo!
É aquele difícil beirando o impossível.

Mas, e quem disse que a gente vai ser feliz sempre?
Isso é bobagem!

Como cantou meu amado Vinicius, “É melhor viver do que ser feliz!...”.

Porque p’ra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara.
Tem que tentar e não conseguir.
Achar que vai dar certo, ter muita certeza e, poft!, ver que não deu...
Querer muito e não alcançar, ter e perder.
Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, mas que tem que ser ouvida.

A vida é incontornável.
A gente perde, apanha muito, é passado p’ra trás, se engana com amizades ditas tão “verdadeiras”, cai, desilude.

Dói, ai, eu sei como dói!

Mas, confie: isso passa.

Tá vendo a felicidade ali na frente?
Não?!
Ok, agora não tá dando p’ra ver, eu sei.
Tem uma montanha de dor/ rancor/ decepção na frente, não é?

Continue andando, por favor.
Você vai escalar essa montanha, vai sentir frio lá em cima, muito cansaço...
Vai querer desistir, mas não vai, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir, o ritmo é mais agradável e o único jeito de deixá-la p’ra trás é continuar andando!

E, assim, você vai ser feliz...

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha?
Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela.

Juro que falo a verdade, eu não vou mentir p'ra você.

Vai passar.